novembro 14, 2014

Portugal sob viroses

O BES, instituição-pilar do regime – seja ele qual for, na infinita capacidade adaptativa desta majestosa e aristocrática instituição – foi atacado por um vírus de âmbito conspicuamente familiar e apenas extensivo a escassos e estreitos círculos de relações íntimas, cujo nome científico, ainda não estabilizado, poderá ser denominado o zanga-se-a-comadrella. A comunidade científica tem-se visto grega (logo, com pouco crédito no mercado) para descobrir as fontes do surto epidémico. A doença manifesta-se pelo avassalador enriquecimento dos elementos da família Espírito Santo, enquanto os pais e os filhos da restante trindade deste País assistem, pagando, ao descalabro institucional promovido e aconchegado por quem, por acaso, é chorudamente pago para evitar que estas coisas aconteçam…

Já o governo português, porventura por contaminação dos corredores do poder, com muito menos cuidados de higiene por força dos sucessivos cortes orçamentais e despedimentos na função pública, até no pessoal da limpeza ou principalmente aí, tem sido avassalado por um surto de idiotella, cujos sintomas mais graves e notórios se fizeram manifestar em Pires de Lima, senhor ministro da Economia, em plena Assembleia da República, sintomas esses que se caracterizam por mudança súbita de voz, que se torna infantilmente aflautada, raciocínio errático e de recuo muito limitado, compondo um quadro de esquizofrenia preocupante que, como bem nos lembramos, ocasionou recentemente comportamentos muito análogos, ainda que inconseguidos, por parte da própria presidente da Assembleia. 

Do mesmo modo, a senhora ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, revela avassaladores indícios de mania da perseguição, infundada embora, que se atribui ao mesmo vírus, o qual pode desenvolver desvios comportamentais de diversa índole, mormente quando agravada por recurso a plataformas informáticas – lembremo-nos da esterqueira que se aloja, nomeadamente, nos teclados dos computadores após utilização prolongada (unhas, migalhas de pão, cabelos, clipes usados para escarafunchar ouvidos e/ou outras partes anatómicas…) ou, mesmo, da insegurança e ansiedade digitais geradas pelos écrans tácteis – articulado com reformas estruturais no sistema judicial de tal modo abissais, que nem se lhes vê o fundo…

Estas manifestações desviantes tiveram, como é bem sabido, uma especial incidência no Ministério da Educação, numa deriva que se prolonga há mais de dois meses sem internamentos nem fim à vista.

A Protecção Civil, por seu lado, tem vindo a ser vitimada pelo vírus estranho e perverso denominado empanicadella no seu afã de manter os cidadãos a par daquilo que parece ser uma portentosa e quase diária hecatombe meteorológica… mas afinal nem tanto. A doença manifesta-se na constância e assiduidade de avisos amarelos e laranjas espalhados pelo País de cada vez que cai um aguaceiro em qualquer ponto do dito, passando geralmente ao lado das autênticas trombas de água com que o cidadão comum tem vindo a ser presenteado e para as quais há escasso ou nulo aviso. Prevê-se que em dia de problema sério e generalizado, ninguém lhes ligue nenhuma, pensando tratar-se de mais algum acesso viral naquelas cabecinhas preocupadas…

Por outro lado, a Presidência da República parece infectada por um estranho e incógnito vírus, que leva o seu principal agente a condecorar hoje personalidades por alegados altos feitos para, amanhã, se questionar, meditabundo, sobre a gritante incompetência dessas mesmas personalidades. Há quem lhe chame boliqueimella, mas esta denominação carece de contorno científico… Porém, o cidadão atónito observa que foi apenas há cerca de seis meses, em 10 de Junho, mais propriamente, que Zeinal Bava foi condecorado com a Classe do Mérito Comercial (Grã-Cruz), que se destina a distinguir «quem haja prestado, como empresário ou trabalhador, serviços relevantes no fomento ou na valorização do comércio, do turismo ou dos serviços» pelo senhor presidente da República. Há dias o mesmo senhor presidente questionou o mundo sobre «o que é que andaram a fazer os accionistas e os gestores» da PT»? Lá está…é o vírus!  

Mas um dos vírus que mais me tem atormentado – devo confessá-lo – tem especial incidência no pão nosso de cada dia. No pãozinho, esse mesmo, o que nos acompanha o pequeno-almoço e restantes refeições (para quem as tenha). Um homem adquire um pão na mercearia ou na padaria, no supermercado ou no café do bairro, e o resultado é sempre o mesmo: o pão é um amontoado de buracos. Não se pode fazer dele a bem-aenturada torradinha, nem espalhar uma colherzinha de mel no faneco sem que os ingredientes se escoem por toda aquela imensidão de buracos, onde devia encontrar-se miolo.

Eu tenho muito cá para mim que isto se trata de uma manifestação de panditismo descarado, porventura proporcionado por algum vírus gourmet com especial predilecção pelo miolo do pão e que o deixa todo esburacadinho, coitado. Já me informaram que aquilo era água a mais na massa de padeiro, que propicia um espaventoso aspecto exterior, mas sem qualquer conteúdo, pelo que a dar-se-lhe algum nome científico eu sugeriria, talvez, casa-da-segredella – estão a ver, não estão? Espavento exterior sem conteúdo…  eheheh, esta foi de mestre (de obras).

Hoje mesmo, mal aberto o jornal do dia, e salta a notícia de que diversos elementos ligados ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras terão sido atacados por um vírus de goldella, vírus esse que se manifesta pelo aparecimento intempestivo de chorudas maquias de numerário de proveniência uma vez mais duvidosa e cujo foco infeccioso não é de fácil circunscrição…

E de muito mais haveria a referir, mas não quero incomodar-vos à exaustão.

Mas, agora, num registo sério, pois o que para trás fica dito não passa de um chorrilho de brincadeiras com que vamos sendo lixados, como terão reparado, deixo-vos esta reflexão:

- antes de mais, interessa saber que não me atrevo, por razões claras e óbvias do respeito que me merece o sofrimento alheio, a ser cínico ou, sequer, irónico referindo-me àquela enfermidade que, na zona de Vila Franca de Xira, tem vitimado centenas de concidadãos.

Não posso, entretanto, deixar de considerar, a este respeito, que, se temos um governo que legisla, já em 2013, no sentido de deixar de tornar obrigatórias determinadas auditorias ou inspecções a instalações de empresas privadas cuja actividade é susceptível de gerar subprodutos perniciosos para as populações circundantes, este caso, para além de se tratar de urgentíssima situação de saúde pública, não deixa de ter flagrantes contornos de caso de polícia. Pelo menos, assim me recomenda o senso-comum…


Haverá, ainda, tribunais e sistema judicial (para além de outras minudências…) a funcionar em Portugal ou terá já tudo sido diluído nestas viroses e estamos todos ao deus-dará, como soe dizer-se, e apenas nos resta ir sobrevivendo até ao momento da nossa medieval, desconsolada, desprotegida, indigna e irremediável morte não assistida? 

10 comentários:

  1. Deem-se por satisfeitos, caro OrCa.

    Por aqui, se já não nos bastassem as doenças tropicais (agora mais o vírus chikungunya, primeiro caso - importado - confirmado em Manaus), nos deparamos com um vírus bem mais perigoso, quase letal àquele que tenta combatê-lo. Acomete alta cúpula do PT (não confunda com a sigla de Portugal). Trata-se de um vírus altamente contagioso, que causa dano ao Erário. Aquele que é contaminado tem logo o sintoma da doença, em seu pior estágio: desvio do dinheiro público, em altas somas.
    É o vírus Petrobrasillienbrás gravinella. A origem é no Brasil, e todos os casos confirmados, até agora, foram identificados na Petrobrás.
    A Operação Lava Jato, da Polícia Federal tem tentado exterminar o vírus, mas a propagação é muito rápida. Estima-se, que a economia do País de origem desse vírus - o Brasil - , ficará, sobremaneira, comprometida, e as consequências já atingem as Bolsas estrangeiras, inclusive.
    Ainda hoje, a Operação da PF cumpriu vários mandados de "internação" das pessoas com os sintomas da "doença", mas há outro grande perigo nessa ação: o vírus não reage muito bem a esse tipo de "tratamento", e, provavelmente, essas pessoas irão se submeter ao "tratamento" nos paraísos fiscais.
    É isso.


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    1. A São diz-nos irmãos, mas eu creio mesmo que somos siameses. Somos família que já não se visita há muitos anos e, ainda assim, somos irmãos siameses. Ora aí fica um desafio socio-biológico-político para deslindar...

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  2. Somos mesmo povos irmãos.

    http://henricartoon.pt/rapsodia-politica-875154

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    1. "Semus,çim,mêrmaum!"

      (Fui lá conferir. Tal e qual).

      Um beijo, São, para consolar.

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    2. Ai menina.
      Se soubesses com a São é beijoqueira.... ;)

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    3. A minha cara metade deu a isto o toque de professora: "os professores deles devem estar muito orgulhosos..."

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  3. Pois.
    Uma vénia ao Mestre Orca.
    De facto este país está entregue a esta moçada.
    Melhor (ou antes, pior) este país está nas mãos deste putedo ordinário que se vende sem honra nem glória por quem lhe dá mais.
    Não questiona de onde vem o dinheiro, quem é que mete a troco de meia dúzia de patacos, no íntimo do corpo, ingnomia das ingomias, que sendo puta mete os fregueses no corpo dos outros que sendo tolos e descontentes saíram da lama para se meter no lameiro.
    Foi este povo que acreditou na palavra de uma múmia que condecora qualquer cadeirão, sofá ou pechiché desde que não cheire a Saramago, que suporta um bando de pulhas que desbaratou o país dos instrumentos fundamentais da sua soberania, tudo a troco de meia dúzia de notas que como se sabe, acabam por ser levadas pelo vento.
    Mas enquanto houver anéis para atrair os fregueses a sodomia continuará, mais notas entrarão, vindos dos mega quarteis da droga Mexicana e Colombiana das mega fraudes da China, das mega trafulhices das Goldens Sachs e outras, todas do mesmo jaez.
    E os Portugueses têm é de estar agradecidos por ficar sem nada, pois como elas, as putas dizem, ninguém investe neste país se porventura os que antes eram donos e senhores se atreverem a soltar um ligeiro pigarro.
    E assim vieram as notas que já abalaram, sumiram-se , esfumaram-se no nada dum fumo de cigarro que levou com ele a Cimpor, a Ana, a EDP os CTT, a PT e agora a TAP.
    Esta última feita depressa, ainda antes que acabe o primeiro mês de 2015.
    Agora parece que umas quantas putas resolveram guardar umas notas no soutien. Os fregueses do cartão dourado, gostam de pagar mais um pouco para não usar preservativo, e estando a jeito, mais nota menos nota....
    Escândalo! Vergonha... acham que sim?
    Sim?
    Ou talvez não.
    Afinal os comportamentos fazem escola....
    Mas mim, que não me vendo, mas vejo vender-dar as coisas que também são minhas, digo:
    PORRA!
    Já me dói o traseiro !!!!

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  4. Essa, do vírus "goldella", foi bem metida
    essa e o final
    a "indigna e irremediável morte não assistida"
    que, se calhar, todos merecemos

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  5. Tudo isto tem, no entanto, o benefício de voltar a trazer ao nosso dia-a-dia alguns termos menos utilizados, como seja a pulhice, o safardana, o charlatão, o ressabiamento, a trafulhice... e tantos outros. Não que tivessem desaparecido, claro. Mas a malta até do vocabulário parece andar arredada.

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