julho 18, 2014

SERRANO





A terra esventrou-se e dela saiu o homem da serra. A mesma pedra que é chão também é teto, parede e contraforte. A terra é mãe-madrasta, mas ensina a amar o pouco que dá. Só vergastando ela chora um pouco do sustento que à míngua o filho lhe pede. E assim dançam por largos anos até que, num dia marcado no calendário do filho, outros abrem uma cova e nela o depositam. Incestuosamente ele desce até lá e, com aviso, vai fecundá-la, fechando o ciclo do filho e perpetuando os ciclos da mãe. Este é o fado do homem filho da serra.


5 comentários:

  1. Que lindo!
    Lembrei-me, ao ler o texto, da letra O CIO DA TERRA (Chico Buarque)- letra linda e melodia ainda melhor, assim diz, em determinado trecho:

    "(...)
    Afagar a terra
    Conhecer os desejos da terra,
    Cio da terra, propícia estação
    E fecundar o chão."

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  2. O ciclo repete-se. A mãe gerou os serranos que vão sepultando outros serranos e fecundando essa terra que é Mãe mas que no final como os próprios filhos

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  3. A terra é sempre o ventre bendito
    que o homem come...

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