março 25, 2014

um herói do 25 de Abril

Em Março de 2008 publiquei, na revista Perspectiva, o texto que abaixo se publica. Verifico com agrado que este mesmo tema foi objecto de publicação em livro, da autoria de Adelino Gomes (texto) e de Alfredo Cunha (fotografia), a ser lançado hoje, pelas 18h30, no Torreão Poente do Terreiro do Paço, e com o título Os Rapazes dos Tanques.

Haverá a acrescentar, também, a atitude do cabo apontador José Alves Costa - cuja identidade apenas agora é conhecida (veja-se a edição do Público de hoje) - que, sequencialmente à atitude do então alferes miliciano Fernando Sottomayor, optou por não cumprir a ordem de fogo que lhe foi transmitida, enclausurando-se no tanque, não disparando, também, contra os camaradas de armas. Aqui fica, então, o meu artigo evocativo do nosso 25 de Abril:

Rubrica o adejar da mariposa - UM HERÓI DO 25 DE ABRIL

No dia 25 de Abril de 1974, e num momento crucial para o desenvolvimento das operações, Salgueiro Maia afrontou corajosamente o brigadeiro Junqueira dos Reis, leal ao regime, que comandava a força de Cavalaria 7, constituída por quatro carros de combate M47, seguidos de uma companhia de atiradores do Regimento de Infantaria 1, da Amadora, e alguns soldados da PM de Lanceiros 2, na Rua do Arsenal. Terá sido esse, porventura, um dos momentos de maior tensão dos muitos momentos tensos que nesse dia se viveram.

Após sucessivas tentativas de negociação ou de mero diálogo, por parte dos revoltosos, que resultaram infrutíferas, o comandante da força pró-governamental deu, primeiro, ordem de prisão e, depois, por falta de acatamento daquela, ordem de fogo contra Salgueiro Maia.

O alferes miliciano a quem foi dada essa ordem, de seu nome Fernando Sottomayor, pertencente ao RC7, recusou-a, sendo detido de imediato, por afrontamento directo ao seu comando e, porventura, hipotecando a sua vida com tal decisão, se o movimento dos capitães não houvesse saído vitorioso da contenda.

Essa sua atitude veio a ser seguida por todos os seus camaradas de armas, que o secundaram no acto, aderindo grande parte deles ao movimento dos revoltosos e esvaziando a ameaça que aquela força constituía para o sucesso global da operação.

Foi o acto de um homem isolado, que talvez nunca se tivesse sentido tão só como naquele segundo determinante da sua e das nossas existências. Ainda assim, arrostando com medos e circunstâncias adversas, ele deu o passo que a consciência lhe ditou, tendo assumido a sua escolha e, com isso, alterando o curso da nossa História.

Ele é, também, um herói porventura esquecido, quase anónimo e certamente não glorificado do 25 de Abril, ainda que a sua atitude tivesse sido decisiva no desenrolar dos acontecimentos.

Este é o peso, pouco ou nenhum e, ainda assim, determinante que cada acto nosso pode valer no concerto do mundo.


- Jorge Castro
Março de 2008

2 comentários:

  1. Muito bom, podermos recordar este marco histórico!

    ResponderEliminar
  2. Ás vezes, (poucas vezes, ou muitas, muitas?) um só homem pode fazer a diferença.
    É o momento sublime em toda a História cabe num gesto, numa atitude, num dizer basta, não vou por aí....

    (vai sendo hora, camarada, amigo, companheiro...)

    ResponderEliminar