dezembro 08, 2012

A posta que este não é o meu país de origem


Talvez por ter nascido antes do 25 de Abril aprendi a encarar o meu país mais do que como simples local de nascimento mas como uma Pátria. Era essa a educação que nos davam porque era a que melhor servia os propósitos do regime de merda da altura, embora eu tenha aprendido a distinção entre o que implica o amor a uma Pátria e o fanatismo inerente ao nacionalismo exagerado e me acredite capaz de não trair qualquer das minhas convicções por abraçar esse amor que nos incutiam.
Contudo, essa Pátria que amo é uma realidade completamente alheia à que vivo nesta altura enquanto português porque está a ser gerida por gente sem qualquer tipo de semelhança com pessoas que identifico na condição de meus conterrâneos.
E dessa gestão apátrida por gente canalha estão a resultar coisas tão indignas como o absoluto desprezo pela fase terrível que a maioria de nós atravessa.

Tempos atrás tomei a desconfortável decisão de me desfazer de um bem imóvel, tentando remediar o impacto da crise no meu quotidiano, não sem antes me dirigir à repartição de Finanças para me informar acerca das questões fiscais associadas.
Nessa altura referiram-me que dois anos depois seria tributado pela mais-valia. Mas, para minha surpresa, constatei à posteriori que seria no ano seguinte ao da transacção que a martelada me atingiria.
Foi mesmo uma surpresa e virou do avesso todas as contas e expectativas para o ano em causa, a ponto de nem ter conseguido reunir a quantia necessária para liquidar o montante de imposto que me era exigido.
Percorri então o calvário do pedir batatinhas e lá fizeram o obséquio de me permitir a liquidação do imposto surpresa (por erro de informação prestada por um funcionário público) em prestações nada suaves quando somadas a outros compromissos assumidos.

Um Estado canalha, de má fé

Dessa aparente compreensão do Estado perante o mau momento dos cidadãos que o sustentam caiu-me mal a exigência de uma garantia, bancária ou outra, para acautelar a dívida em apreço. Note-se: uma garantia só pode aplicar-se a um bem que a possa salvaguardar e se a pessoa está em aflição por ter vendido esse bem só pode recorrer a duas alternativas: um seguro de caução quase impossível de subscrever ou uma garantia bancária igualmente dispendiosa e naturalmente dependente do estatuto da pessoa em crise junto da instituição. Ou seja, um beco sem saída típico dos presentes envenenados que um Estado de má fé oferece a quem lhe dá os flancos por não optar por uma existência não contribuinte à conta da economia paralela.

Claro que não pude obter a garantia em causa e disso dei conta na mesma repartição de Finanças onde antes me tinham induzido em erro mas que, azar, é a da minha área de residência (Sacavém). Que estava tudo bem, interessa é que nunca falhe com alguma prestação, o único problema da falta de garantia será o de não poder voltar a receber reembolso do IRS enquanto a dívida não estiver liquidada por inteiro. A custo, não falhei uma única prestação até à data mesmo sentindo na pele a ausência do tal reembolso relativo às retenções na fonte das quais não posso e até hoje não quis escapar.
Ou seja, nesta fase já me tinham entalado com uma informação errada que implicava mais um compromisso mensal que só me dificultava a vida num momento particularmente difícil.

Um Estado sem escrúpulos, chantagista

Hoje, para meu espanto, aprendi que vale a pena exigir prestadas por escrito todas as informações prestadas pelos funcionários das Finanças ou gravar as conversas com os mesmos. Aprendi que o Estado é incompetente, é aldrabão e é perigoso quando munido de poderes acima dos que lhe devemos conceder sobre a vida dos cidadãos contribuintes.
Aprendi que esse Estado sem palavra, pelo menos na boca de diversos dos seus funcionários públicos, pode acordar mal disposto e chegar a qualquer conta bancária, individual ou conjunta, e penhorar o que lá houver. E isto com base em alegados avisos prévios que nunca chegam a acontecer: recebi uma carta (que referia ser a terceira) no mesmo dia em que a penhora aconteceu.
Descobri entretanto que, mesmo não falhando com o compromisso assumido de pagamento em prestações, enquanto a situação da penhora se mantiver, enquanto a dívida não for liquidada na totalidade, perderei o direito a qualquer tipo de dedução fiscal.
É essa a chantagem descarada com que o Estado acabou de me confrontar, depois de me induzir em erro com uma falsa compreensão do problema que me permitiu diluir em prestações mensais.

Só me falta perceber se os montantes penhorados de várias contas farão a diferença entre conseguir manter sob controlo os meus vários compromissos mensais ou entrar num incumprimento provocado, nem mais nem menos, pelo Estado que se tornou na maior ameaça à nossa existência social, substituindo-se à banca nesse particular.
Mas já percebi que esta gente que se apoderou do destino da Pátria que amo está a transformá-la numa realidade bem distinta de tudo aquilo que representa o sentir português que, como os hipócritas que elegemos tanto elogiam, é reconhecido como solidário nos momentos de maior aflição.

E por isso mesmo a partir desta data declaro guerra sem quartel, sob todos os meios que a Lei e a Democracia me concedem, aos miseráveis bandalhos que estão a destruir nos princípios mais elementares a alma da minha Nação.

4 comentários:

  1. Não arrisco uma vénia, mas agradeço encarecidamente na mesma. :)

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    Respostas
    1. Só agora li e aplaudo também.
      Mas, pese embora toda a nossa indignação, eles continuam a levar a deles avante.
      Vendem tudo, ou melhor, entregam tudo de cu para cima e calças em baixo e por meio tostão às sôfregas máfias que estão por todo mundo de garras à espreita das "privatizações" e das "reestruturações".
      O terreno fica assim irremediavelmente minado para as futuras administrações dos Países que pouco mais poderão fazer do que gerir o que resta do Estado: NADA!
      Sobre a figura de Passos Coelho pende já uma acusação que fica para memória futura: o desmantelamento criminoso das estruturas de coesão que formam o tecido social de um país. ´
      Pior do que no antigo fascimo nacional onde Salazar tinha a sua noção pacóvia do Estado, - mas era à sua maneira defensor da coisa da Nação- estes senhores são a coluna avançada de interesses alheios.
      Coisas que fazem rebolar na cova o ditador de Santa Comba, como isto de dar a EDP num obscuro negócio, agora a ser espiolhado por suspeitas de irregularidades graves, a TAP a um inviduo com três nacionalidades que tudo promete, mas já fala grosso a impor preços e já sabe de coisas sobre o concurso que os outros putativos concorrentes não sabem, o inqualifável plano de vender a RTP a uma sociedade com sede desconhecida mas que tem um contacto algures na América Central...
      Isto estarão doidos? Estaremos nós?
      Não se pode pegar numa borracha e apagar esta merda toda?
      Ou sera´que somos nós a merda que eles querem apagar nem que seja á fome?

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