outubro 16, 2012

O problema não é a falta de coerência no discurso de Gaspar; o nosso problema é essa coerência

Estrebucharam mil opiniões – muitas delas supostamente da própria cor ou muito chegada – por reacção à discurseta do ministro Gaspar quanto à inevitabilidade do aumento da carga fiscal que sua excelência propõe no Orçamento de Estado para 2013, em ordem a «manter o capital de credibilidade e confiança de Portugal no estrangeiro», seja lá isso o que for.

Estrebucharam mal e porcamente, quase sempre. Ah, porque ele devia ter deixado uma margenzita de manobra aqui; porque deveria contemplar uma finta de corpo acolá; ou até porque uma leve condescendência corporativa, aqui ou ali, só lhe ficariam bem…

Néscios, mentecaptos, líricos ou vendidos os que tal propõem.

De facto, o discurso de Gaspar é de uma coerência gritante que assusta. De uma clareza chã que apavora. De uma desfaçatez que aterroriza.

Gaspar sabe bem o que quer e ao que vem. Sabe o como e o porquê. Sabe o quanto e até onde. Gaspar sabe bem o que quer! E quando se pretenda contestá-lo usando a mesma argumentação ou trilhando os mesmos caminhos, quem o fizer estará votado ao fracasso, tão límpida, clara e intransponível é a sua dialética.

Mesmo que não seja a dialética de mais ninguém – para além dos seus amigos mais chegados – é a SUA dialética.

Olhai-o, irmãos, vestido de burel e de baraço ao pescço, que pretende até restituir ao País o quanto o País nele investiu com artes de o moldar ao gosto do seu estereotipado desígnio… mas, ainda assim, desígnio.

Não veio de Santa Comba. Mas poderia muito bem ter vindo. Salvará a Pátria com a mesma inatacável perseverança e determinação com que o Botas a salvou, quase até à nossa extinção.

Porque o Gaspar sabe muito bem o que quer.

Interessa é saber se o que ele quer é coincidente com o que eu quero. Com o que tu queres. Com o que nós queremos. E, isso, o Gaspar nunca curou de saber. Porque ele sabe o que sabe e isso lhe basta.

O Gaspar é pois um presuntivo ditador, que apenas não o é efectivamente, porque a História lhe é adversa. Ainda assim, presume poder interromper a vigência da Democracia em Portugal – como alguém antes dele lhe sugeriu – pelos meses ou anos que muito bem entender.

O Gaspar é o principal agente da rotura do contrato social em Portugal. O Gaspar será o responsável por cada montra quebrada. Por cada empresa falida. Por cada cabeça partida. Por cada alma estilhaçada.

O Gaspar terá contas a prestar à História, disso não me restam dúvidas algumas.

Mas lá que ele é coerente, disso também não tenho dúvidas nenhumas.

Apenas falta apurar quem o sugeriu, quem o impôs, quem o chamou. Apenas falta, afinal, apurar quando e como seremos, outra vez, um povo livre.

11 comentários:

  1. Eu teria preferido se ele não agradecesse a educação que o Estado lhe pagou.

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    1. Eu fiquei estupefacto: A sua gratidão, fez-me lembrar a de um jovem recém formado que foi à aldeia agradecer ao pai com uma garrafita de cicuta. Assim, se sentir mal, é só tomar uma colherzita ou duas disto.
      Não cura, pensou ele, mas ao menos não sofre mais...

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    2. Eu, neste caso, se fosse ao Estado faria fiado.

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  2. Eu teria preferido que ele enfiasse a educação dele num lugar qualquer onde coubesse a custo.

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