março 16, 2012

«Desemprego e desigualdade. Capitalismo e Pobreza» (parte 3) - Jaime Ramos

Um país desigual promove uma sociedade não só menos justa, no plano da moral, como possui indicadores de qualidade de vida claramente inferiores.
O Japão, graças à baixa desigualdade, tem a maior esperança de vida no planeta. Está claramente demonstrado que quanto mais desigual for o país, menor é a esperança das pessoas terem bons indicadores de saúde e uma maior longevidade.
Os quatro países mais igualitários são o Japão, a Noruega, a Suécia e a Finlândia.
Aconselho a leitura do Livro “O Espírito da Igualdade” de Richard Wilkinson e Kate Pickett, onde através de estudos científicos e estatísticos, comprovam a superioridade dos países com menor desigualdade social.
Os povos que mais resistem à desigualdade social são aqueles que têm uma melhor qualidade de vida de acordo com os indicadores internacionais normalmente utilizados para fazer as comparações.
Adoptar políticas que favoreçam a desigualdade, com base na crença não demonstrada que se beneficia a economia, tem como consequência menor coesão social, mais maternidade adolescente, maior violência, mais crime, maior consumo de drogas, maior obesidade.
Se quisermos uma sociedade mais amigável, com menos violência e menos crime, mais educada e mais saudável, com menos doença mental, menos obesidade, menos risco cardíaco, com maior esperança de vida, teremos de investir em políticas de redução da pobreza e combate às desigualdades.
No sistema capitalista, o único a funcionar, a avareza e a ganância são as motivações fundamentais. É profundamente errado confundir lucro justo e remuneração adequada do capital com exploração selvagem do mais fraco.
Não podemos esquecer que a supremacia do capitalismo, perante as doutrinas socialistas, foi conquistada graças à liberdade e à democracia.
Não pode haver sucesso em quadros de igualdade absoluta, ainda por cima assentes em regimes sem liberdade. O desastre histórico das utopias comunistas e socialistas, com a sua deriva, na prática, para ditaduras perigosas e economicamente ineficazes, deixaram o mercado à solta.
Em jovem enfrentei o facto de grande parte dos meus colegas terem acreditado nos paraísos socialistas e comunistas, em muitos casos “gulags” de morticínio de dissidentes. Hoje sinto que a mesma loucura, acrítica, cega, obnubila o pensamento de muitos políticos e largas faixas da população quando não se opõem a políticas que aprofundam a desigualdade e alargam o fosso entre os ricos e os pobres.
Mas uma coisa é o capitalismo selvagem, um mercado sem regras, onde toda a ganância é possível e outra, que defendemos, a manutenção de um mercado livre com obrigações sociais.
O bloco europeu, e mais marcadamente os países nórdicos e o Japão, quando comparados com o resto do mundo são a prova de como as sociedades que mais combatem a desigualdade funcionam melhor.
Temos a obrigação de criar um País competitivo e produtivo. Não o faremos se continuarmos cegos pelas teorias políticas que favorecem a ganância e um capitalismo selvagem, que se autodestruirá, como a recente crise internacional está a demonstrar.
Um futuro melhor e uma sociedade mais amigável, mais fraterna, mais segura, com menos crime, exige políticas que, respeitando o mercado, não se demitam de o regular e domesticar, impondo preocupações sociais e de protecção aos mais frágeis.
Nunca defendi métodos radicais, revolucionários, mas acredito que podemos dar passos, maiores ou menores, no sentido correcto, visando criar uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais humana. Sou social-democrata porque sempre defendi um processo reformista da sociedade, em oposição às revoluções pacíficas ou infelizmente mais frequentemente violentas ou sanguinárias.
As pessoas não são iguais pelo que não é correcto defender um igualitarismo imposto. Uma sociedade justa apoia os menos aptos, para que possam competir e garantir mínimos adequados, incentiva os superdotados, mas não os deixa cair na tentação de se apropriarem de tudo.

(continua)

Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

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