janeiro 20, 2012

Da (in)felicidade

Vi hoje uma reportagem na TVI que indicava o português como um dos povos mais infelizes da Europa. Pousei o garfo e ainda me espantei: o quê? Com este sol? Mas está tudo parvo?
Depois percebi.
A única forma de se aferir uma coisa destas é ir para a rua perguntar a uma amostra fidedigna sobre a felicidade. E estou a imaginar as respostas:
Ahhh, cá se vai andando ou Uns dias melhor, outros pior ou ainda Não se está mal mas tenho aqui uma dor nas cruzes... ou mesmo Podia estar melhor mas sou infeliz no casamento (oh, porra e o divórcio/separação/raio que os parta a todos?) ou O meu chefe não gosta de mim ou Estou triste porque o amor não me assiste ou a sempiterna (desde 1143 - disse o RAP um destes dias e a mãezinha desde sempre) crise, que é pau para toda a obra, ou o diabo a quatro.

Errado, errado, neste país de Calimeros, é dizer-se Estou bem e recomendo-me ou Sou feliz, sim senhores, gosto do que faço e da vida que tenho. Isso é crime de lesa uma Majestade que nem sequer existe por cá.
Quem se diga feliz é porque não tem problemas (ainda que só os possa ter) e isso é imperdoável! A mentalidade do ai-que-infeliz-que-eu-sou-tenho uma verruga-na-virilha-e-a-troika-mais-a-crise-que-é-que-eu-faço-à-minha-vida-e-onde-é-que-isto-vai-parar? (não pára, ó burros, "isto" não pára nunca, habituem-se!!) não perdoa quem não se queixa. Se o apedrejamento em praça pública fosse possível, os que se dizem felizes eram todos fechados no Campo Pequeno e aqui vai disto, que é para aprenderem a não rir quando os outros (coitadinhos) têm tanto de que se queixar. Nunca são gente que se fez à vida, apesar dos problemas que a todos assolam, qual quê?! São inconscientes, tontos, narcísicos - e o que mais se lembrarem aqueles que, em vez de se focarem na resolução de problemas que em grande parte dependem de si (o sentido de voto, a coragem para mudar aquilo de que não gostam, os tomates para dar um salto em frente e mudar de vida... whatever!), estão sim preocupadíssimos em tornar quem ousa ser feliz (tenha os problemas que tiver) em seres amorfos, iguais a si.

Afinal, para quê pensar que Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, se nos podemos queixar ad aeternum da dor no joelho, ou no antebraço ou na parte interna de uma perna?

(Bardamerda, sim? Pronto.)

9 comentários:

  1. Aqui(Brasil)dizem o oposto: infeliz é quem não tem problemas a resolver; quem tem problemas a resolver fica tão ocupado com eles que não tem tempo para se sentir infeliz. Um abraço, Yayá.

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  2. Penso que todos nos queixamos. Uns porque não tem emprego e outros porque o ordenado não chega para as necessidades próprias e familiares...
    O Sol e o Céu azul não enchem barriga...enquanto a uns lhes dão milhões, casa, carro e guarda costas...outros privam-se do direito à saúde, à educação e de uma vida digna...

    Para que eu esteja bem todos os outros à minha beira tem de estar bem...

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    1. Luís, é uma questão de mentalidade: "os outros à minha beira" vêm sempre o copo meio vazio. Eu vejo quase sempre o copo meio cheio.

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  3. E o copo quer-se sempre cheio, porque se fica vazio há uma mão de alguém que o enche loogo de espumante, não a minha: uma segura no copo e a outra no leitão....

    Mas voltando ao Campo Pequeno, há alguns que se riem à farta que precisavam duns bons bajolos nos cornos. Não por inveja, não por frustração mas sim por indignação pelo muito que do riso deles advém da tristeza que provocam a outros.

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  4. Entretanto, nós, por cá, todos bem... E nada como criar momentos felizes, em que somos, afinal, pródigos. E quero mesmo dizer todos. Um belo de um tinto. Uma aguardente daquelas. Um naco de vitela a derreter-se. Um abraço sentido e apertado. Um beijo só mesmo por amor. Um corpo que passa na rua e nos transtorna. Um olhar que nem se sabe como existe. Aquela mesa de perna bamba que resolvemos finalmente reparar. Uma avenida cheia de árvores em dia soalheiro. As cores do bosque no Outono. Uma conversa de amigos. Um texto que nos sai e nos empolga. Uma imperial gelada no meio da sede. Uma escultura na pedra que nos transporta além de nós. Um riso fresco. Uma lágrima teimosa.

    Sei lá que mais... E tudo em nós. E nós a dizermos: «- Sim, vamos andando menos mal ou assim-assim. Enfim, como podemos e como nos deixam e tal...» e, se calhar, o que temos cá dentro é uma soberba colecção de momentos felizes que partilhamos pouco porque não fomos ensinados a partilhar. E essa é uma das coisas que requer grandíssima aprendizagem.

    Pense-se o quanto a partilha de um momento de infelicidade com um bom amigo pode ser um momento feliz da nossa existência...

    (Pois é, mariquices contra a «concertação social» foi, no fundo, o que a Ana me sugeriu...) ;-)»

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  5. Vamos beber uns copitos. malta?
    Posso dar-te um beijo, OrCa?

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  6. Cuidado que a São Rosas tem os beiços cheios de baton. Nada de facilitar Orca. Ouvi dizer e foi uma mosquinha que me contou, que a São Rosas endroga as pessoas com os beijos. Não sei o que lhe põe, se é do perfume ou se é do baton, do próprio baton que ela conspurca (hihhihihi) com alguma erva ou cogumelo. A verdade é que bicho gajo apanhado pelas comissuras dela fica varado da telha; ou seja: parvinho dum todo, tipo a tal mosquinha atrapada nas teias da octopática criatura que as tece...

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