novembro 29, 2011

Do cuidado: a comunhão entre Caetano Veloso e Aristóteles

Não sou Psicóloga nem tenho jeitinho nenhum para a área (o savoir-faire ficou todo para a R.), mas parece-me evidente que quem ama cuida e quem não ama só cuida se lhe apetecer.
Passo a explicar: quem gosta (mas daquele gostar mesmo a sério, não perco tempo a referir-me aos outros) encara o bem estar do outro como prioridade e, por tal, é-lhe inevitável, quase contra-natura, não cuidar dele/a. E, porque o sentimento é recíproco, cuidar do outro é como cuidar de si mesmo, não há ali lugar a cobranças nem a desequilíbrios.
Quem não gosta, ou gosta assim-assim, ou está a ver se gosta, ou não sabe se quer gostar, cuida antes de mais de si mesmo. Pode até parecer cuidar do outro/a, mas é a si, antes de mais, que acarinha, porque é a personagem principal do seu mundo de afectos e não há nada a fazer. E isto não tem mal algum, não me interpretem mal, quem sou eu para apreciar o modo como as pessoas relacionam...!? Cada um escolhe o cuidado que quer ter com o outro e que crê que o outro deva ter consigo; se estiverem bem, palminhas, palminhas, que o amor é lindo e cada um o vive como quer.

O problema é a mistura.
(Shhhhh, deixem-me acabar, sim? Vão acabar por perceber que sou uma xenófoba sentimental e pode ser que isso vos dê jeito, num futuro próximo, para o usarem contra mim. Depois não digam que não sou amiga.)
Um hetero-cuidador nato estará condenado à infelicidade eterna se cometer o disparate de se apaixonar por um auto-cuidador: é que, bem vistas as coisas, serão duas pessoas a cuidar de uma só, o que é menino para, mais dia, menos dia, pôr os nervos em franja ao primeiro (o outro estará deliciado com o cuidado redobrado e nem perceberá a causa do arrufo).
Nesta coisa dos amores, há raças. E este é o único mundo onde a mescla pode ser um perfeito disparate.

O que é que têm em comum Caetano Veloso e Aristóteles? Oh caramba, não salta à vista?
O silogismo, pois então,! Se não, observem:
"Quando a gente gosta é claro que a gente cuida", certo?
Que é o mesmo que dizer, muito simplesmente:
Todo aquele que ama, cuida.
Y não cuida de Z.
Y não ama Z.

Depois não me venham dizer que a vida é complicada, sim?

7 comentários:

  1. Será de todo impossível viver sem amar, sem gostar do outro/a com mais ou menos intensidade.
    Aqueles que gostam assim/assim, gostam à sua maneira...
    Outros gostam porque lhes convém e daí ?

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  2. Pronto. Lá estamos nós a complicar...

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  3. Podemos desmontar o bicharoco, e dizer que o gostar é aquela coisa que devolve sensações positivas ao agente activo da acção. Um feedback de prazer. Gostamos de algo, de alguém, de um pensamento, se este nos devolve um activo que nos acrescente. Como somos uma sopa química que dá o suporte físico ao que se pode chamar de alma, então o gostar melhora a sopa química e a alma agradece.

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