julho 05, 2011

O medo da adultez

Não é raro ser surpreendida por alunos ou ex-alunos que, na iminência de acabarem o primeiro ciclo dos seus estudos superiores (a chamada licenciatura, na nomenclatura pré-Bolonha), dizem "quando eu for adulto/a" ou "vocês, os adultos". Costumo encolher os ombros e perguntar (-lhes, se tiver confiança suficiente, ou para mim, apenas, se não houver proximidade) se a data em que se entra na idade adulta também ocorre quando um adolescente quiser, como o Natal.
Na semana passada, enquanto folheava uma daquelas revistas semanais de actualidades (Visão, Sábado ou Focus, não estou certa de qual tenha sido), deparei-me com a citação das palavras de uma actriz nacional, nascida em 1979 (e, portanto, com 32 anos), que afirmava qualquer coisa como "não sei quando se é adulto mas eu não me sinto como tal" (trata-se de uma citação de memória).
Foi nessa altura que percebi que alguém que é muito mais da minha geração do que da dos meus alunos tem um discurso semelhante ao deles, como se temesse a idade que se crê ser a das responsabilidades. E pensei no meu avô materno, enviado para Lisboa aos 9 anos, quarta classe acabada, para ser marçano. Ou na minha mãe, a quem não havia dinheiro para pagar os estudos depois dos 15. Nenhum deles escolheu ser adulto, foi-o à força. Como é que as coisas mudaram tanto em duas gerações? De ser-se adulto forçado aos 9 anos passa-se a escolher não o ser, já depois dos 30?! E será que se, por um acaso, eu decidir voltar atrás e já não me apetecer ser adulta também, perdoam-me os impostos sobre o rendimento ou as multas de estacionamento?

Só não vociferei um "este mundo está perdido" porque prometi sempre a mim mesma não me refugiar em dislates generalistas e sem real fundamento.

7 comentários:

  1. Gostei do seu post,quem, por motivo de força maior encara a maturidade muito cedo, desperdiça uma fase da vida que também é importante e quem sendo maduro, não aceita as suas responsabilidades, mamou além do tempo certo de desmamar. Um abraço, Yayá.

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  2. Essa imagem de mamar e desmamar agrada-me muito...

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  3. A mim também transmite uma sensação muito positiva...

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  4. Bem... depende do que se mama ou desmama...

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  5. Olá, Artes e Escritas! E muito obrigada. :)

    (olá São, olá Shark!! :D)

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  6. A adolescência era de facto na Antiguidade considerada como o ponto de passagem, o momento-flor da vida, antes de fazer da vida o fruto. Todas as iniciações eram feitas nesses breves anos, por vezes apenas uma estação. O sentimento de euforia que os quase-adultos sentiam, paradoxalmente por sentir que se iam tornar adultos, transformou-se nos tempos de hoje na euforia apenas, prolongando o estado adolescente em contra-relógio com o relógio biológico, como se viver fosse estar em permanente euforia adolescente, sem outro espaço mental para diferentes atitudes e abordagens. É bom ser-se jóvem?
    É óptimo, ter a mente sempre abertas e ansiosa por rasgar horizontes, por isso mesmo é que sou jóvem há umas boas décadas, mas deixei de ser adolescente há quase tantas que levo de juventude.
    Quando algúem se diz adolescente aos trinta e picos, dá-me vontade de perguntar-lhe se passou os últimos dez anos a dormir, se não aprendeu nada, se não cresceu durante a década que o viver lhe ofereceu, ou apenas passou dez anos distraída....

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