novembro 03, 2010

A mudança de hora vista com humor por um mestre do dito

Miguel Esteves Cardoso
O bom tempo no mau
Crónica no «Público» de 2010-11-02


"No domingo mudou a hora. Tudo ficou uma hora mais cedo. Pela primeira vez na vida, decidi não obedecer. Desobecedi. Deixei os meus relógios à hora que era antes de chegarem as bruxas, todos os santos e los muertos dos mexicanos.
Fiz como fiz com o acordo ortográfico. Não liguei. Durante seis meses, pensarei que toda a gente acorda uma hora mais tarde. Ou seja, pela parte que me toca, que os restaurantes abrem mais tarde para almoçar (à uma) mas, para compensar, fecham mais tarde para jantar.
O sol não liga nenhuma à hora de nascer ou de se pôr. Como me explicou Sebastião Carvalho, numa carta, lusco-fusco vem do latim de “luz que foge”, pelo que nunca se pode aplicar ao amanhecer.
Ao não alterar os relógios e ao alterar o computador, dei comigo a pensar que a primeira acção era boa (não contrariar a mecânica dos cronómetros), mas a segunda era má (ir contra o acompanhamento automático dos terminais ligados à Internet). É boa esta mistura de 50 por cento de bom com 50 por cento de mau, como o cocktail Rusty Nail, que é metade de belo whisky de malte e metade do enjoativo licor Drambuie.
É verdade que estou adiantado metade do ano - mas todos os outros estão atrasados. Na outra metade, quando a hora volta a ser igual à minha, são os outros que vêm acertar a hora comigo.
Assim tenho sempre a hora certa e - não sei explicar como - um bocadinho mais de tempo. Já de razão, se calhar, tenho um pouco menos. Mas acaba por compensar."

Aposto que o MEC assinará a minha petição, quando a conhecer:


Consulta e assina a petição
Não à mudança de hora - petição aqui

(desenho do mestre Raim)


Obrigado, Carlos Carvalho, pela pista!

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