junho 09, 2007

A minha terceira carta de trás da Serra na revista Perspectiva

Olá,

Então como tens andado? Pelas notícias que aqui nos chegam, tem sido uma grande lufa-lufa aí pela capital. Por cá "está tudo na mesma, como a lesma". Ou pior ainda: terras abandonadas, empresas que fecham, infra-estruturas que não aparecem e outras que desaparecem.
No domingo fomos para casa do Quatro Papos-secos, como sempre que há jogos de futebol dos nossos clubes que sejam transmitidos na televisão. Depois de tantos anos, ainda não nos fartámos e nunca tal acontecerá, porque aquilo funciona como o apito de uma panela de pressão: chamamos nomes à equipa adversária, ao árbitro e, claro, entre nós, porque «amigos, amigos, clubes à parte». Aliás, não é raro cortarem-se relações durante um período de tempo que pode ir de segundos a anos, como naquela vez em que o Chico Padeiro disse que a bola tinha entrado e o Betes negou: "ficou afastada mais de trezentos metros da baliza, carais". Ainda hoje não se falam... e às tantas já nem se lembram do motivo. A malta até comenta que isto faz lembrar os habitantes da Córsega, numa das aventuras de Astérix.
Desta vez, o jogo estava tão morno que a conversa derivou para a política. O Dadinho chamou nomes aos governantes como se fossem árbitros: "andam todos à mama, carais". O Lourencinho do Professor Rogério lá lhe disse que não se podia generalizar, já que "há coisas bem feitas e políticos que fazem um bom trabalho". E deu o exemplo de muitas das medidas de desburocratização da administração pública que estão a ser tomadas. "O Simplex, não é? Nem daqui a trezentos anos aquilo se endireita", refilou o Zé Léu entre um gole de cerveja e um arroto. Mas todos reconhecemos que isto precisava era de muitos Simplex, na administração central mas também na local. Como sugeriu o Careca, "algumas câmaras municipais precisavam era de uma barrela, carais".
"Gooooooooooooo...", começou a gritar o Zé Léu, mas o árbitro tinha marcado fora de jogo. Corrigiu a tempo: “Goooooooole de cerveja”. E pimba, que estava calor.
Fomos para intervalo.
Todos concordámos em duas coisas: os petiscos que a Ana do Quatro Papos-secos preparou estavam uma delícia; e os políticos sofrem do mesmo problema do pastor que tantas vezes gritava por brincadeira "Socorro! Um lobo!" que, quando estava mesmo a ser atacado por um lobo, ninguém acreditou nele e nenhum colega o foi socorrer. "Os políticos deviam ser responsabilizados, não só perdendo depois eleições, pelas promessas que fazem e não cumprem", como sugeriu o Careca. "E os partidos que estão na oposição não deveriam atacar os governos de forma gratuita, como muitas vezes o fazem", rematou à baliza o Zé Léu. “Até porque depois vão eles para o governo e é vira o disco e toca o mesmo, carais”. E a malta gritou “gooooooloooooooo”.
"E o nosso John?", perguntou o Dentes. De quem ele se foi lembrar. Foi como se estivéssemos a ver a selecção portuguesa a receber uma taça e a ouvir o hino nacional. Não sei se tens visto o John aí pela capital, agora que ele é secretário de Estado. Ele, que tecnicamente é reconhecido por todos como um dos melhores especialistas na sua área em Portugal, está a fazer um óptimo trabalho no Governo. O Dadinho perguntou-nos se nos lembrávamos de "quando a televisão ainda era a preto e branco e o John apareceu vários dias num programa, sozinho, a explicar o que iria ser o IVA", algo de que ninguém até ali tinha ouvido falar e iria passar a fazer parte das nossas vidas. Claro que todos se lembravam. Tu lembras-te?
O Careca disse algo bem visto: "Vê-se trabalho, há resultados e não há ondas". Seria tão bom se a política fosse toda e sempre assim...
As nossas mulheres estavam agora junto de nós, enquanto o jogo não recomeçava. Interromperam as suas conversas – ninguém compreende como conseguem estar horas a falar – para criticarem o John, que "está muito gordo".
"Já recomeçou o jogo", gritou o Quatro Papos-secos. E lá fomos todos chamar de novo nomes ao árbitro, revezando-nos conforme ele marcava faltas a uma ou outra equipa. Desde que a cerveja não acabe no frigorífico, isto é que é vida, carais!
Bem hajas pelo intervalo que fizeste na tua azáfama para leres esta carta.
E recebe um grande abraço deste que não joga nada e a quem por isso vós chamais Cruijff desde os tempos de juventude,

Paulo Proença de Moura
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Página on-line da revista «Perspectiva»

junho 05, 2007

PT que os... (3)

Sabiam que a forma de os clientes da PT acabarem com estes massacres das chamadas promocionais é ligar para o 16200, marcar 9 para falar com um assistente e dar-lhe instruções para deixarem de ser incomodados com chamadas de telemarketing?
Simples e eficaz. Pelo menos para já, deixei de receber chamadas da PT à hora de jantar, à noite e aos fins de semana.